Rádios e Quasímodos
Texto escrito por Ana Lúcia Pintro em 19 de abril de 2006
— Temos medo do desconhecido?
— Sim.
— Como devemos enfrentar nossos medos?
— Conhecendo-os!
— Quando é que tomamos coragem para enfrentar nossos medos?
— Quando surgem as necessidades.
— De que medo estamos falando, agora?
— Do medo de fazer parte da vida de crianças, jovens e adultos portadores de deficiências mentais e físicas.
— Por que temos de dialogar sobre esse assunto?
— Porque eles devem ser integrados na sociedade e para tanto contam contigo.
— Não tenho nada a ver com isso. Meus filhos são normais e já não lhes dou a atenção que merecem. Não encontro as metodologias adequadas para trabalhar com alunos sem deficiência, quanto mais os que apresentam algum quadro de limitações físicas e mentais. O governo é que precisa rever os espaços físicos e projetar obras para facilitar o acesso dessas pessoas. Esses educadores que pregam a inclusão deveriam ser mais práticos e menos teóricos.
— Você já tocou em algum "Corcunda de Notre Dame"?
— Como assim? O que queres dizer?
— Você já conversou, se aproximou de alguém que apresenta alguma deficiência física e percebeu que essa pessoa é inteligente e capaz?
— Não tive essa oportunidade. O Corcunda de Notre Dame é também um deficiente mental, não é?
— Não, o Quasímodo aparenta ter retardado mental porque foi isolado do mundo. Negaram-lhe o direito de interagir, descobrir, entrar em contato com a cultura de seu povo. Seu equívoco é perdoável, afinal, até médicos erram dando diagnósticos de pacientes capazes intelectualmente porque pensam que a falta de habilidades motoras está associada a problemas mentais. Já vi portadores de necessidades físicas rindo de médicos que atestaram: "retardamento mental". Quem é o verdadeiro retardado nessa história?
— Entendi. O preconceito é gerado pela ignorância.
— Eu gostaria que você conhecesse o Rádio, através do filme "Meu nome é Rádio" que é baseado em fatos reais. Ele é um exemplo das pessoas normais fisicamente, que podem desenvolver suas capacidades cognitivas, debilitadas por razões nem sempre conhecidas, se receberem uma mão amiga. Esse mundo altamente competitivo carece de pessoas solidárias, capazes de acreditar que ajudar um ser humano nunca é um erro.
— Por que ele se chama Rádio? É estranho...
— Descubra assistindo o filme. Posso lhe assegurar que saber a origem desse apelido não é o que há de mais rico nessa história. Espero que não esqueça do meu pedido. Afinal de contas, perdemos o medo conhecendo e é conhecendo que aprendemos a amar. Precisamos amenizar e quem sabe acabar com os preconceitos que temos em relação aos Rádios e Quasímodos. Essa lição é importantíssima! Talvez haja um pouco de cada um deles em nós mesmos.
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