Texto escrito por Ana Lúcia Pintro
Em algum lugar alguém escreveu que o filme “A língua das mariposas” é interessante e eu resolvi aceitar a sugestão de conhecê-lo. Assisti, me comovi e guardei a mensagem numa das fitas que registram passagens das minhas aprendizagens. Certa manhã, depois que bateu o sinal avisando que a quarta aula estava para começar, uma magnífica bobagem me fez relembrar dessa desconhecida produção cinematográfica.
Numa pequena cidade da Espanha, pouco antes da ditadura se instalar no país, um garoto de sete anos conheceu um velho professor. Eles eram os principais atores de uma história singela, triste e profunda que foi marcada por uma valiosa amizade. O menino vivia em paz e com o mestre descobria o prazer de aprender, de admirar e explorar a natureza, de viver com os sentidos e os sentimentos. Os ensinamentos do mestre eram práticos, ou seja, as características das borboletas eram estudadas no próprio microscópio ou tendo-as entre as mãos para sentir sua energia e a beleza que emanava das cores que a enfeitavam.
Porém, o professor não era apenas um poeta sonhador encantando com flores, árvores e animais indefesos: tinha um ideal republicano e manifestava sua indignação com o regime opressor. Devido às suas preferências políticas, foi preso pelos rebeldes fascistas e humilhado pela própria comunidade que o devotava. A população apavorada, agiu com a razão e não com o coração. A moral e a ética foram pisoteadas pelo medo do poder das armas.
Voltando à magnífica bobagem que me trouxe essas lembranças... Eu me direcionava à sala de aula, quando quatro meninas me chamaram para tirar uma dúvida. Elas observavam o pico de uma das montanhas das serras - distantes por mais de cem quilômetros - e discutiam se o ângulo que ele formava era ou não reto, ou seja, um ângulo que mede noventa graus: “Professora, a Adriele acha que é um ângulo reto. É ou não é?” Senti-me recompensada, ao saber que a origem daquele questionamento se devia aos conteúdos que eu estava abordando nas aulas de matemática. Poucas pessoas podem entender o que isso significa para uma professora, mas certamente, muitas compreenderam se fizerem uma comparação com a felicidade que sentiram quando ouviram seus filhos falando palavras que ensinaram com persistência e paciência: “Papai, mamãe, água, au-au...”
Esse simples fato é uma prova de que o trabalho que executamos na educação não é em vão. Plantamos sementes que um dia darão frutos e se investirmos nas pesquisas, melhoraremos sua qualidade e teremos um mundo melhor pra se viver.
Qual é a relação que existe entre o professor, o menino, eu e as quatro meninas? Bem, para responder eu teria que contar o final do filme. E, isso não se faz.
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