Texto: Ao mestre com carinho

Texto escrito por Ana Lúcia Pintro.


Em algum lugar do passado, você compartilhou experiências de vida que criaram mentes que brilham na nossa sociedade e outras que se tornaram mentes perigosas.

Na sala de aula você pode estar entre o céu e a terra, pensando em seus sonhos, querendo dar um grito de liberdade, relembrando suas loucuras de primavera ou mesmo justificando as razões pelas quais nunca teve coragem de fazer parte da sociedade dos poetas mortos.

Enquanto isso não percebe aquele aluno que se sente o dono da noite, o estudioso seguidor

de Giordano Bruno ou os pensamentos que afloram timidamente querendo te falar:

- Professor, minha vida de cachorro tem que acabar! Eu levanto cedo todos os dias para trabalhar como engraxate, à tarde estou na escola e à noite só escuto brigas.

- Professor, quero ser grande e poder fazer tudo o que vocês fazem. Não suporto mais tem que obedecer aos adultos. Por que não posso usar boné na sala?

- Professor, sinto que você está preocupado, conta comigo, eu posso te ajudar.

- Professor, eu quero entender como funciona a máquina do tempo. Você me ensina?

- Professor, já entendi que “leste é onde fica o sol nascente”, mas agora eu gostaria mudar de assunto porque quero te contar o que aconteceu na tenda dos milagres da minha igreja, ontem.
Assim a hora do recreio se aproxima enquanto pensas que és o sobrevivente de uma profissão desvalorizada e desrespeita, mas não há outro jeito, afinal de contas a escolha foi sua e é tarde para voltar atrás. Infelizmente, não estás conseguindo olhar muito além do jardim e perceber que antes da chuva as flores normalmente estão sedentas. Você precisa entender que parte de todas as manhãs do mundo serão suas para sempre.

O feitiço do tempo é capaz de deixá-lo eternamente jovem, desde que, aproveite tudo o que lhe é íntimo e pessoal para provocar pequenas mudanças nesse tempo de violência que clama por paz interior e social.

E a vida continua esperando seu coração bater mais forte enquanto ele puder.