terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Refletindo sobre "A excêntrica família de Antonia!

A excêntrica família de Antonia
Texto escrito por Ana Lúcia Pintro

Não faz muito tempo que o assunto do dia era sobre um caso de necrofilia – atração sexual mórbida por cadáveres - ocorrido em nossa região. Pelos comentários, percebia-se indignação, revolta, perplexidade, análises superficiais, incoerência e até a insensibilidade humana:
- Eu não me conformo em saber que há gente capaz de fazer coisas tão horríveis.
- Um cara desses tem que ser castrado e jogado numa fossa de merda.
- Estou apavorada! Nem quando morremos temos paz. O que é isso, meu Deus? Onde vamos parar? Esse mundo está virado mesmo. Cada dia fica pior!
- Sabiam que isso é uma patologia? Há vários tipos de desvios sexuais. Freud explica...
- Que nada! O falecido estava com saudade.
- Vai ver que era alguém querendo “uma mais apertadinha” e além do mais, dizem que ela era muito bonita.
- Ou desejando novas aventuras amorosas, algo diferente.
- Como vocês têm coragem de fazer humor-negro numa situação dessas? Que falta de sensibilidade! Isso não é um filme de terror, fantasia. Há pessoas sofrendo duplamente.
- Hoje em dia, não há lugar no mundo protegido das maldades. Não adianta buscar refúgio em cidades pequenas pensando que elas ainda reservam tranqüilidade, harmonia e respeito entre as pessoas. Quem diria que num lugar pacato aconteceria algo tão tenebroso! Isso tudo me faz lembrar do filme:“A excêntrica família de Antonia”.
O título provocou minha curiosidade. Uma de minhas amigas, que planeja organizar um “sebo de filmes”, emprestou-me o vídeo. A história contra a trajetória de Antonia, que volta à sua terra natal para o enterro da mãe. Ela resolve então ficar na cidade, trabalhando na fazenda pertencente à família. Começa uma nova vida ao lado da filha e, depois, da neta e da bisneta.
A família de Antonia realmente é excêntrica – original, extravagante, esdrúxula, esquisita. Porém, seus vizinhos também são. Num lugar onde todos se conhecem e sabem de muita coisa sobre a vida alheia, não faltam fofocas, críticas, segredos, intrigas, lições de generosidade e solidariedade.
O homem que mora numa pequena comunidade é capaz de fazer as mesmas coisas que o homem que mora numa metrópole. Ambos vivenciam energias ruins e boas praticadas por seus semelhantes.
Infelizmente, regredimos ainda mais, na maneira como as notícias são divulgadas. Antigamente, os fatos macabros ou considerados vergonhosos eram sussurrados de boca em boca. Hoje, a mídia explora o sensacionalismo visando audiência e brincando com os sentimentos das verdadeiras vítimas.
O mundo que nos acolhe revela segredos a todo momento. É uma pena que não seja de uma maneira inteligente.

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